Irineu Tolentino
Foi a melhor expressão que encontrei para qualificar o injusto afastamento de Fernando Lugo do poder.
Se eu deixasse a retórica de lado, poderia chamar o golpe de "Primavera Reversa", já que perpetrada pelas autoridades constituídas e contra o povo.
E era só o que faltava nesse mundo maluco: o Paraguai, que era conhecido por comercializar produtos piratas, passou a exportar "Primavera Pirata". As autoridades constituídas tomaram o poder do povo, na "mão grande", afastando seu representante legítimo; e tudo se deu na calada da noite, mediante um "processo sumário" como dizem por aí (na verdade, foi um processo relâmpago, pois começou num dia e terminou no outro).
A questão pode ser analisada de diversas formas, sob os mais variados ângulos; de todos eles, sempre fica algo estranho no ar.
"Vamos supor - apenas por amor ao debate -
que Lugo devesse mesmo ser afastado.
Ainda assim, ele teria direito à defesa
como todos os acusados,
e defesa pressupõe tempo."
Em qualquer país do mundo, nem ladrão de galinha é processado tão rápido. Imaginem um Presidente acusado de..."não ter cumprido suas funções adequadamente", pesando-lhe a pena de impeachment...
Pergunto: O Parlamento paraguaio cumpriu suas funções adequadamente?

Nenhum país do mundo tem soberania suficiente para rasgar tratados e convenções internacionais (dos quais é signatário), sem que haja sanção. Nenhum! Logo, é natural que os demais oponham-se ao golpe, com todos os poderes que os tratados internacionais lhes conferem. Isso é convenção internacional, não violação de soberania. É um direito dos vizinhos e parceiros comerciais de ver a lei respeitada e a ordem estabelecida.
Vamos supor - apenas por amor ao debate - que Lugo devesse mesmo ser afastado. Ainda assim, ele teria direito à defesa como todos os acusados, e defesa pressupõe tempo.

Aliás, a questão central é essa: condenação sem direito a defesa. Se Lugo tivesse que ser afastado não o poderia sem que antes lhe fosse assegurado tal direito. Isso é básico em qualquer democracia.
Espero que Dilma não abone a política do "vale-tudo" no Paraguai, como Lula fez em relação ao Maluf. Se ela fizer isso, em algum momento, haverá de posar ao lado de Federico Franco para uma desagradável foto tirada para a posteridade.
O Paraguai está numa sinuca de bico: o país ficará ingovernável diante das sanções dos países vizinhos. E, se voltar atrás, quem julgará os algozes de Lugo?
Nenhum comentário:
Postar um comentário