18 de mai. de 2012

A dura luta contra os preconceitos econômicos

Luis Nassif

É problemática a maneira como as ideias econômicas são revisadas - não apenas no Brasil mas na economia mundial em geral.

Tome-se o novo papel do Banco Central.

Seu último presidente, Alexandre Tombini, além de experiência de mercado é um grande pensador econômico. Nos últimos 15 anos, o BC dispôs de alguns bons pensadores, como Armínio Fraga, Sérgio Werlang e o próprio Tombini.

São técnicos que foram beber nas águas internacionais, mas com suficiente inteligência para entender as especificidades da economia brasileira e promover ajustes - mesmo cometendo alguns erros estrondosos, como as operações casadas de hedge de Armínio em 2002.

No entanto, o discurso econômico midiático sempre se baseou na análise econômica mais rasa, mais facilmente convertida em slogans.

Numa ponta, economistas com bons conhecimentos de números, planilhas - e nenhuma visão sistêmica de economia -, como Afonso Bevilacqua e o inacreditável Alexandre Schwartsman. De outro, economistas sem conhecimento nem de números nem de conceitos - como o ex-ministro Maílson da Nóbrega.
Apesar da análise rasa, esse discurso torna-se tão poderoso que acaba inibindo qualquer tentativa de revisão de conceitos e de aprimoramento dos instrumentos monetários contra a inflação.

Por exemplo, qualquer analista com um mínimo de raciocínio e conhecimento da realidade econômica, saberia que medidas de influência direta sobre o crédito (redução de prazo, exigência de entrada maior) tem mais efeito sobre a demanda do que o mero aumento da taxa Selic - que sequer arranha o custo final do dinheiro.

Mesmo assim, foram necessários anos e anos para que Tombini finalmente rompesse com o dogma e passasse a utilizar ferramentas convencionais de política monetária em lugar de recorrer meramente à taxa Selic.

Dia desses, assisti o Bom Dia Brasil, da TV Globo. Lá, um exemplo muito interessante de como se propagam os slogans na mídia.


A comentarista econômica fala do aumento da inflação em abril - o dobro de março. Quando começa a detalhar os itens de alta, fica-se sabendo que as principais influências foram remédios e cigarros - altas pontuais, sem nenhuma relação com demanda ou câmbio. Aí aponta um conjunto de preços que teoricamente poderão subir nos próximos meses.

Ora, os índices de inflação são compostos por uma infinidade de preços. Periodicamente alguns sobem, outros baixam, dependendo da sazonalidade, de reajustes programados ou outros fatores. O que importa é a soma final. E a soma final mostra que, mesmo com essas altas pontuais, a inflação anual continuará caindo.

Mas a comentarista deixa no ar apenas parte da realidade que interessa - os preços que aumentam. Encerra o comentário e os dois apresentadores continuam martelando a alta dos preços.

Por que fazem isso? Terrorismo? Jogadas? Nada disso. Fazem isso porque é padrão. Maílson falou nesse tom para a comentarista, que falou nesse tom para o telespectador. E os demais colegas apelam para o mesmo tom, porque é padrão.

É por aí que se cria o clima na opinião pública que acaba inibindo os ajustes necessários para a economia.

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