16 de mai. de 2012

Aos oradores das CPIs

Irineu Tolentino

Cansado de ler velhas notícias novas, resolvi, hoje, com o perdão do trocadilho, ler novas notícias velhas.

É que, abrir jornais e revistas do gênero é sempre a mesma coisa. O que foi muito bem resumido por Renato Russo...

"Nas favelas, no Senado
Sujeira pra todo lado.
Ninguém respeita a Constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação.
Que país é esse?"
 
Embora nessas ocasiões - de cansaço com notícias -, eu me distraia com música ou leituras mais prazerosas, resolvi, ao acaso (acaso mesmo), ler Marcos Túlio Cícero, político romano nascido em 106 a.C. Sujeito interessante.
 
Entre várias atividades que abraçou, foi Advogado Criminalista, Senador, Cônsul e até Imperador. Mas, apesar de todo esse êxito profissional, destacou-se-lhe uma qualidade ímpar: orador.

Cícero é tido como ícone da oratória, príncipe dos Advogados, Senador de renome.

Por outro lado, seu concidadão Lúcio Sérgio Catilina, era um "bandido de renome", com status, queria poder e dinheiro a qualquer custo. Em nosso tempo, seguramente ele seria qualificado como um criminoso de colarinho branco. E não seria demais apelidá-lo de príncipe dos ladrões e dos corruptos.

Numa das ocasiões em que discursava no Senado, em defesa da República, além de outros assuntos, Cícero concitou Catilina a "deixar a cidade com seu bando", para o bem de todos.

Segue um trecho do seu discurso:

"Já que os fatos estão nesse pé,
podes dar continuidade, ó Catilina, ao que principiaste.
Vai-te, quanto antes, para fora desta cidade.
Os portões estão abertos. Parte!
Há muito tempo, é esperado como chefe por tuas legiões malianas.
Leva contigo todos os seus comparsas ou pelo menos grande parte deles.
Assim, limpas a cidade.
Livrar-me-ás de um grande temor desde que
a muralha interponha-se entre mim e ti.
Já não podes permanecer conosco por mais tempo.
Eu não suporto, não o tolerarei, não permitirei.
(...)
Se eu exigir a tua execução,
ficarão entre nós os demais que integram
teu esquadrão de conjurados.
Ao invés, se tu te afastas da cidade,
o que, há muito tempo aconselho,
teus comparsas,
volumosos e ameaçadores para a República,
também serão expelidos".

Catilina obedeceu. Deixou a cidade logo em seguida.

Hoje temos diversos Catilinas entre nós. Alguns vemos nos jornais quase que diariamente, outros, continuam nos porões da República corroendo-lhe as riquezas enquanto não são descobertos. A diferença entre os de hoje e o da época de Cícero é que os de hoje não obedecem.

Será que não está faltando alguns Cíceros nas CPIs, Corregedorias, Polícias e Ministério Público?

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