16 de jul. de 2012

O fator tempo na economia


Luis Nassif

Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland tem razão em afirmar que, agora, está se plantando o crescimento para 2013.

Um dos problemas mais intrigantes na análise econômica é entender a economia como uma realidade complexa - isto é, com muitos autores se influenciando mutuamente - na qual uma determinante fundamental é um personagem central chamado de Sr. Tempo.


"O que ocorre nesse primeiro período é atípico. Atendido o atraso, o mercado estará em um patamar mais alto, mas 
seu crescimento voltará a padrões normais."


Vamos conferir alguns exemplos de como o Sr. Tempo age, até para entender alguns problemas atuais da economia brasileira:

O impacto da inflexão nas vendas sobre a produção:

No setor A as vendas são de 100, os estoques de dois meses, são de 200.

Em fase de equilíbrio, o comerciante repõe mensalmente o que vendeu.Aí as vendas caem para 90. Ele precisa reduzir seus estoques para 180 (2x). Com isso sua reposição cai para 70 naquele mês (10 de redução de vendas, 20 de redução de estoques). Para cada 10 de queda na venda, as novas encomendas caem 30. O mesmo vale em fases de recuperação da economia. Se as vendas subirem de 70 para 80, a reposição será de 30 (10 do aumento de vendas, 20 de aumento de estoques).

O impacto de um crescimento menor sobre os investimentos:

Vamos conferir o que pode estar ocorrendo com a cadeia produtiva da construção civil. O setor tinha capacidade de produzir 100. O fornecedor de tijolos produzia 100, o de aço 100, o caminhoneiro que transportava a produção dava conta dos100 e assim por diante.Aí o setor começa a crescer, digamos, a 20%. Para não perder o bonde, no momento 4, todos precisam estar correndo a 173. Então toca comprar mais máquinas, caminhões, tornos etc. para preparar a produção para atender à demanda futura.

De repente, o crescimento cai para10% ao período. No 4o período, em lugar de 173, a produção efetiva estará em 159. Portanto, haverá uma capacidade excedente de 14, que não tem como se remunerar. Se estendermos para cinco momentos, a capacidade instalada estará em 207 e a produção em 174. Portanto a capacidade ociosa pulará para 33.

Ocorre que as empresas tomaram financiamento, compraram equipamento calculando que estariam vendendo 207. Com a queda do crescimento, mesmo crescendo, muitas delas se inviabilizaram. Com capacidade ociosa, deixam de adquirir novas máquinas, afetando o setor de máquinas e equipamentos. E assim por diante.

O mercado de consumo:

Há o acesso de novos consumidores ao mercado de consumo. Abrem-se as portas do crédito, depois de muitos anos fechada. No primeiro movimento há enorme salto de demanda reprimida. As vendas crescem mês a mês até que o atraso seja atendido.

O que ocorre nesse primeiro período é atípico. Atendido o atraso, o mercado estará em um patamar mais alto, mas seu crescimento voltará a padrões normais.

O efeito-defasagem funcionará a favor nos seguintes pontos:

Combinação de juros baixos e câmbio mais competitivo. Os efeitos sobre exportações aparecerão na plenitude no próximo ano:
  1. Safra agrícola robusta.
  2. Destravamento do investimento público.
  3. Aceleração das concessões

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