8 de mai. de 2012

A reviravolta européia


No primeiro dia de funcionamento, após a vitória dos socialistas na França, as bolsas de valores mundiais subiram. Sinal de que nem os mercados acreditam mais nas receitas recessivas que vêm afundando sucessivas economias.

A vitória de François Hollande tira da frente recessiva uma das três maiores economias, a francesa. Insistem no endurecimento fiscal apenas a Alemanha e a Grã-Bretanha. Mas os ecos da vitória de Hollande em breve baterão às portas dos dois governantes.



O discurso de Hollande foi simples: “A austeridade não precisa ser o destino da Europa”, defendendo a ideia de que o crescimento é a fórmula para, tirando os países europeus da recessão, melhorar a própria receita fiscal. Hollande foi além. Na sua campanha, prometeu tributar os super-ricos, impedir o desmonte do estado de bem estar social.

Trata-se de uma luta inglória para os recessistas. Propõem uma política econômica que penaliza o cidadão, o contribuinte, extermina direitos sociais. E não entrega o prometido: a volta à normalidade econômica.

No fundo, são dois os caminhos:

1. Enorme ajuste fiscal. Consegue-se algum equilíbrio no primeiro momento. Depois, o tamanho do ajuste pode derrubar a atividade econômica. Caindo a atividade econômica, cai a receita fiscal e entra-se no pior dos mundos.

2. Estímulos à economia que permitam o equilíbrio fiscal através do aumento da arrecadação, e o aumento da arrecadação através do aumento da atividade econômica.

3. O risco do Passo 2 é se errar demais na mão dos incentivos e a recuperação da atividade econômica não bastar para repor a arrecadação fiscal.

Com Sarkozy, é sepultado o discurso da intolerância, os benefícios aos super-ricos, os cortes sociais, o pensamento anti-imigração. E emerge a alternativa da recuperação dos direitos sociais e do equilíbrio fiscal através do crescimento.

O discurso de Holland já ecoa no Partido Socialista alemão, que se prepara para as eleições do próximo ano. O primeiro ministro italiano Mário Monti já pede um plano de crescimento. E observadores europeus têm esperanças de que no próximo encontro com Holland, a alemã Ângela Merkel saia um pouco do seu dogmatismo.

No mês passado, a presidente brasileira Dilma Rousseff já sentiu Merkel bastante curiosa em relação a fórmulas alternativas de enfrentar a crise fiscal.

Caso haja uma aproximação entre Merkell e Holland, haverá o isolamento do primeiro ministro britânico David Cameron.

Recentemente, Cameron cometeu a indelicadeza de não receber Holland, pensando em isolar o líder socialista francês. 


Este ano será importante para mostrar a viabilidade do caminho indicado por Holland, de não recessão, mas com cautela. Tem-se hoje uma Europa sem rumo, o que favorece movimentos de intolerância em um continente que já se rendeu aos ventos mais destrutivos do século 20.

Caso a fórmula Holland dê certo, haverá um novo rumo a pavimentar a pacificação europeia e sua viabilização como bloco econômico.

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