Luis Nassif
Periodicamente são divulgados índices de competitividade da economia brasileira, em geral em má colocação. Um deles é do Fórum Econômico Mundial; o outro, do World Competitive Scoreboard do Instituto Internacional de Desenvolvimento da Gestão. Ambos são sediados em Genebra e com enorme poder de marketing: seus resultados têm repercussão mundial.
Ambos são baseados em critérios desenvolvidos por Michael Porter, o notável economista norte-americano que, nos anos 80, lançou as bases dos estudos sobre competitividade entre países.
Ambos os índices se baseiam na metodologia do diamante de Porter: levam em consideração fatores físicos, condição de fatores, de demanda e indústrias relacionadas.
Não há diferenciação entre países. Em países autoritários, por exemplo, é muito menor a liberdade para empresários ou advogados externarem suas críticas ao país e governantes. Assim, é difícil colocar na mesma métrica países como Brasil, Alemanha, Suécia, Singapura, Emirados Árabes etc.
Além disso, as avaliações são estáticas, colhidas em curto espaço de tempo. Não há intertemporalidade, não levando em conta nem dados passados, nem futuros, nem incrementais.
Por exemplo, uma economia com melhores significativas teria que ter peso relevante. Mas não existe ponderação em relação a isso.
No Fórum, há ponderações diferenciadas para alguns fatores. No caso de países menos desenvolvidos, leva-se em conta mão-de-obra e recursos naturais. Mas, na essência, são muito parecidos. Não consideram distribuição de renda, inclusão social, sustentabilidade, consumo de energia, qualidade dos recursos naturais, sequer os passivos ambientais.
No último trabalho do IND, na semana passada, o Brasil caiu 2 posições em relação a 2011: de 44 para 46a . A China caiu de 19 para 23o, a Índia de 32 para 35o , a África do Sul em 52o para 50o indicando uma volatilidade excessiva.
Outro ponto que chama a atenção é países como Kwait, Qatar, Emirados Árabes sempre na frente do Brasil, mesmo tendo uma economia restrita, ser dependente do petróleo, não dispor de proteção trabalhista. Os índices não levam em conta a questão da inovação, dos avanços tecnológicos
Desde 2009, a ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial), mais um conjunto de 35 países, decidiram participar da Federação Global dos Conselhos de Competitividade (Global Federation of Competitiveness Councils – GFCC; www.thegfcc.org). Essa organização congrega “conselhos de competitividade” de países. Conta com 15 países membro integrar e 35 participantes de sua rede total.
A primeira reunião da GFCC foi em Washington, a segunda em Porto Alegre, em novembro do ano passado, com a participação de representantes de 15 países.
O primeiro desafio da GFCC foi construir um novo conjunto de métricas de competitividade que refletissem as diferenças e potencialidade dos países, suas agendas de crescimento e desenvolvimento.
A GFCC decidiu discutir novas métricas, ampliando os conceitos de Porter.
A primeira proposta foi do Conselho Presidencial da Competitividade Nacional, da Coréia do Sul, desenvolvida por professores da Seoul Universitiy, que fundaram e coordenam o Industrial Policy Research institute (IPS).
Os novos fundamentos
De sua parte, a ABDI analisou o índice para o Brasil e apresentou um diagnóstico que foi debatido com os pesquisadores coreanos em Seul durante uma semana, no final de outubro de 2011. Em seguida, os diferentes conselhos apresentaram seus trabalhos na reunião de Porto Alegre. A decisão final foi, em vez de um único índice, desenvolver um painel de métricas (scoreboard), ampliando os conceitos do “diamante”, de Porter.
A razão das mudanças
Essa escolha se deve aos seguintes aspectos. 1) A construção de um índice tem problemas metodológicos intrínsecos. Por exemplo: como compatibilizar em um mesmo número taxa de alfabetização e crescimento do PIB per capita? 2) É difícil capturar em um único índice as realidades dos diferentes países participantes. Por exemplo: há como comparar diretamente os EAU e a Rússia?
Porque scoreboard
O painel de indicadores permitirá que países com características distintas (e estratégias de desenvolvimento distintas) possam melhor comparar seu desempenho com outras nações. A ABDI trabalhará no desenvolvimento da metodologia conceitual do painel junto com o MBC. Será montado um grupo de governança para a condução dos trabalhos. O mesmo está ocorrendo com os temas levantados na reunião de Dublin.
A corrida para o topo
Muitas vezes a ideia da competitividade está associada à precarização da qualidade de vida e do trabalho. A ideia central do novo modelo será, ao invés de procurar economias de custos mais baixos, buscar a construção de economias e países mais prósperos. Em vez de uma “corrida para custos mais baixos”, “uma corrida para o topo”, segundo o executivo do conselho de competitividade da Irlanda.
A reunião de Seul
Em 24 de maio passado, finalmente, uma reunião técnica na Irlanda ajudou a afinar as métricas de competitividade da GFCC. Pela ABDI, foram o Chefe de Gabinete (Otavio Camargo), o Gerente de Assuntos Internacionais (Roberto Alvarez) e um professor da USP (Mario Salerno).
A ABDI propôs analisar os países de acordo com oito dimensões, cada qual medida por um conjunto de métricas.
As métricas
São as seguintes métricas: 1. Desempenho geral; 2. Complexidade econômica; 3. Infraestrutura; 4. Recursos humanos (talento); 5. Capital (financiamento); 6. Inovação; 7. Qualidade de vida; 5. Crescimento futuro. Discutiram-se também princípios que deverão pautar as análises: Considerar indicadores estáticos e dinâmicos; indicadores ex-ante e ex-post; Indicadores da economia como um todo e micro; ênfase em dados duros (hard data); Segmentar os países conforme tamanho.
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