15 de abr. de 2012

O Erro de Abílio Diniz

Jean-Charles Naouri, o Daniel Dantas francês

O empresário Abilio Diniz cometeu o maior erro da sua vida, ao tentar a tacada de adquirir o Carrefour com o apoio do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social).
 
A operação era habilidosa e visava impedir que seu sócio, o Casino, assumisse as operações do Pão-de-Açúcar, conforme rezava o acordo de acionistas. Tivesse montado a operação com recursos privados, talvez o desfecho fosse outro.

 
Esse equívoco, no entanto, acabou jogando para segundo plano um personagem complexo, espécie de Daniel Dantas francês, argelino-francês Jean-Charles Naouri, o capo do Casino.
Formado em Harvard, Jean-Charles tornou-se alto funcionário público francês em 1982, como chefe de gabinete do Ministério da Economia e das Finanças, participando da desregulamentação do mercado financeiro francês.

 
Fora do governo em 1987, associa-se aos Rotschild, cria um fundo de investimento, o Euris, e passa a participar minoritariamente de várias empresas.

 
Em 1992 torna-se o maior acionista do grupo Casino, em 1998, seu acionista majoritário. Em 2005 dá início a uma mudança de postura do Casino, afastando-se dos mercados maduros e investindo fortemente em economias emergentes.

 
Nesse período coloca em ação um estilo predador dominante nos anos 90 – que, no Brasil, teve como principais seguidores (do estilo) figuras como Dantas e Nelson Tanure.

 
Trata-se de associar-se a empresas, depois desfechar uma guerra implacável usando como armas ações judiciais, montagem de dossiês, divulgação através de jornais e revistas cúmplices.

 
Foi assim na compra de 50% do Monoprix, uma rede com 300 lojas servindo um público de bom poder aquisitivo, junto com a tradicional Galeria Lafayette.

 
Em março venceria o acordo de acionistas. Para assumir o grupo, o Casino teria que comprar a metade pertencente à Galeria Lafayette, avaliada em US$ 1,8 bilhão, somado os 21% de ágio pelo controle. O Casino apresentou proposta de US$ 700 milhões, recusou uma proposta de compra de US$ 1,35 bilhão por parte da Lafayette e deu início a uma campanha pesada, depreciando a imagem da companhia. O assunto está na justiça.

 
Jean-Charles se envolveu em cinco disputas semelhantes, sempre recorrendo a dossiês, campanhas midiáticas, plantação de notas e ações judiciais.

 
Foi assim com a família Baud, controladora da rede Franprix e Lider Price. Foi uma luta ferrenha, na qual Jean-Charles acusou Roberto Baud de financiamento fraudulento. O adversário acabou condenado a quatro anos de prisão.

 
Duas semanas atrás, Jean-Charles tirou Abilio Diniz do Conselho do Casino, uma mexida empresarial sem muita relevância no Brasil, mas que acabou rendendo 20 segundos de Jornal Nacional.

 
Há quatro semanas, enviou carta formalizando sua intenção de assumir o controle do Pão de Açúcar. O dia da mudança será 22 de junho. Abílio ficará com a presidência do Conselho e com algum poder de veto. Poderá opinar sobre a presidência executiva, mas a partir de uma lista tríplice indicada pelo controlador.

 
Até 2014 – prazo para o Casino adquirir suas ações – Abilio terá que dormir com um inimigo que tem, sob contrato, 41 escritórios de advocacia e uma usina de dossiês contra competidores.

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