24 de jul. de 2013

Saudade do Drummond


Tive o privilégio de ter uma ligeira conversa com Drummond pouco antes dele morrer.

Estávamos na varanda de uma simpática casa de campo, no interior de São Paulo. Era uma tarde gostosa, o Sol já estava repousando.

Falávamos - na verdade mais eu do que ele - sobre a vida e coisas que costumam permear nossos momentos de ócio.

Drummond não era de falar muito, especialmente naquela tarde em que sentia a morte se avizinhando.

Eu tentava arrancar as últimas lições e impressões que ele sempre tinha prontas, a respeito da vida e de tudo. Com sua sabedoria, era fácil para ele ler o mundo de uma forma peculiar, só dele, e ainda resumir tudo num simples olhar ou menear de cabeça.

Mas, desta vez, havia uma pedra no meio do caminho...

Após algum tempo, ainda na varanda, ele ficou lá, estático, contemplativo... Realmente não era hora para reflexões poéticas. Respeitei seus últimos momentos e dei uma oportunidade ao silêncio. Afinal, bastava eu estar ali, ao seu lado, demonstrando uma lealdade sincera, para cumprir o meu papel. A minha presença e comunhão de tristeza deveriam valer alguma coisa.

Passei então a relembrar os belos momentos que passamos juntos, compartilhando sentimentos e frustrações. Sim, às vezes, a vida frustra, mas, não raro, presenteia-nos com grandes alegrias.

Drummond fez muito durante toda sua vida. Deixou marcados na lembrança de quem o conhecia grandes momentos e importantes lições.

Definitivamente, ele não passou por esse mundo em vão. Fez o que lhe cabia, sem temor de desagradar. Era sincero em seus sentimentos sem deixar de lado a doçura. E acabou agradando a todos justamente por isso: sinceridade e doçura... Combinação perfeita para nos conquistar.

Mas, enfim, Drummond partiu levando consigo parte de mim.

Agora, para cobrir o vazio que ele deixou - se é que isso será possível - terei que arrumar outro cachorrinho. Provavelmente, dar-lhe-ei o nome de Pessoa.

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