Irineu Tolentino
Às vezes, no calor de alguma situação, sustentamos que brasileiro é desonesto, quer levar vantagem em tudo, é mal-educado, etc. Mas, na verdade, ele é um ser humano como outro qualquer, exatamente igual ao japonês, ao chinês, ao canadense, etc, excluindo-se aquilo que o Governo devolve a cada um.
Embora o ser humano traga alguma coisa congênita, no geral - ressalvadas algumas poucas exceções patológicas -, é produto do meio. O sistema molda o homem como a forja molda o ferro. Prova disso, são os usuários de trem e metrô: o povo é o mesmo, mas, no metrô, todo mundo parece mais educado e até mais elegante. O cara sai do trem e, do nada, ao entrar no metrô, "puf", “melhora”. Por que isso? É o poder do meio sobre o homem.
Não estou elogiando o metrô (pelo amor de Deus, há muito para melhorar), mas é fato que o metrô de São Paulo é um pouco menos pior do que o trem (de São Paulo). O trem ainda está muito distante do aceitável.
Um estrangeiro que vem morar no Brasil logo “se adapta ao meio” e passa a se comportar como nós. Hoje mesmo, vi um "japonês" (ou descendente, sei lá) jogar um papel no chão depois de comer alguma coisa. No Japão ele não faria isso. Por que o fez aqui? A resposta é simples: aqui é assim!
É o dito popular se impondo: "Se estiver em Roma, viva como os romanos".
Mas, justiça seja feita, o "japonês" não é mal-educado. Ele procurou um cesto de lixo e não encontrou. Como viu outras pessoas jogando papel no chão, ele também o fez, por mimetismo. Talvez até compartilhando a nossa errônea crença de que alguém recolherá o papel mais tarde.
Não creio que o Brasil melhore apenas com um trabalho de conscientização. É válido fazer isso, mas fazer só isso é comodismo e falta de vontade de trabalhar em prol do bem comum.
Essa situação também nos faz perceber que o governo, como produtor e fiscalizador de leis, poderia ser o grande culpado. E, por governo, poderíamos nos referir àqueles que têm o dever de fazer leis, investir na estrutura adequada para o seu cumprimento e fiscalizar. De nada adianta fazer leis se não houver fiscalização. "Se na prática não há pena, qual é o problema?".
Mas, caramba! Houston, we have a problem! Se apenas o governo é o culpado, quem ocupa os cargos do governo não somos nós? Homens e mulheres escolhidos no meio do povo?
Sim, é aí que está a chave da questão! Como há pessoas boas e pessoas más, temos que colocar no poder pessoas boas para que elas possam emitir para a sociedade os comandos corretos. Nem todos os políticos são corruptos. Ainda há àqueles que querem dar ao mundo a sua contribuição.
Houston! We solved the problem!
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