Coluna Econômica - 30/03/2012
Há numa enorme confusão envolvendo os negócios do empresário Eike Baptista. Em parte por ter se convertido em um dos homens mais ricos do mundo. Em parte por um exibicionismo incontrolável – impensável em uma cultura mais calvinista, como a norte-americana. Mas, em parte, devido às características de seu próprio negócio.
Há dúvidas consistentes mas, também, incompreensões sobre as características do seu negócio.
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O
que a imprensa tem chamado de “prejuízo”, na verdade, são investimentos
pré-operacionais. Isto é, aqueles investimentos feitos para colocar o
negócio de pé.
Se
o sujeito tem uma jazida de petróleo, por exemplo, e monta uma empresa,
o valor da empresa será X. Aí ele investe durante dois anos para
adquirir equipamentos, iniciar a prospecção até que o negócio comece a
gerar receitas. É esse o investimento pré-operacional, que a mídia tem
chamado de “prejuízo”.
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A
OGX, por exemplo, apenas esta semana entregou sua primeira carga de
óleo. No ano passado, o que chamam de prejuízo ascendeu a R$ 482,2
milhões – mais que natural.
O
empresário anunciar investimentos da ordem de US$ 15,5 bilhões nos
próximos dois anos. É um dos maiores investimentos de qualquer empresa
global.
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Não
significa que tudo seja claro na aventura de Eike. Revelou-se um craque
na arte de farejar oportunidades e montar alianças estratégicas.
Adquiriu uma mina de ferro, revendeu no auge do boom do metal, teve
senso de oportunidade para participar dos poucos leilões do pré-sal. E
continua montando parcerias, associações e atraindo investidores de
todas as partes do mundo.
Além
disso, tem no pai, Eliezer Baptista, o melhor consultor que alguém
capitalizado poderia pretender. Eliezer sabe como poucos os gargalos da
infraestrutura, as possibilidades estratégicas seja na área de
transporte marítimo, portos, mineração, siderurgia.
Juntou um capital quase infinito com a quase infinita capacidade de Eliezer de pensar projetos grandiosos.
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Acontece
que no mundo das empresas o capital é apenas um dos insumos. Os demais
são capacidade de gestão, montagem de equipe, definição de padrões de
eficiência, montagem de sistemas, uma parafernália infernal, que não se
coloca de pé da noite para o dia – ainda mais abrindo a quantidade de
frentes que o empresário se dispôs a abrir.
E
até agora – com exceção de quem trabalha diretamente com Eike – ninguém
pode assegurar qual o seu potencial na montagem da parte operacional do
seu império.
É
verdade que, nas estatais do Rio de Janeiro, Eike tem um estoque enorme
de executivos de alto padrão. E tem o conhecimento acumulado de
Eliezer, homem que construiu a Vale, que pensou o projeto Eldorado dos
Carajás.
Mesmo
assim, é uma quantidade de frentes abertas inédita para um empresário
só. Mesmo grandes organizações, já estabelecidas, teriam dificuldades em
caminhar em tantas frentes simultâneas. Ainda mais sabendo-se que,
antes dessa última corrida campeã, Eike não se notabilizara por ser um
construtor de empresas.
***
No fundo, Eike ainda é um enigma a ser decifrado. E apenas o tempo dará a resposta. Poderá ser reconhecido como um dos grandes empreendedores do século 21. Ou apenas um sujeito com extraordinário senso de oportunidade, que foi engolfado por um ataque irrefreável de megalomania.
(...)
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